2 de out. de 2007

Desígnios do coração

No último dia 29/09 pela manhã, sentei-me em frente ao computador e comecei a brincar com as palavras, já que assim construimos pensamentos, textos, desabafos.
Não era o sábado mais bonito. Amanhecera nublado, engasgado e pensar que o que eu pensava poderia ser algo da minha cabeça começava a me flagelar.

Dedilhei consoantes e vogais integradas, seguidas de espaços, de modo que fizessem sentido.....Não pensei que de alguma maneira elas de fato se tornariam reais. Salvei-as quando um telefonema interrompeu meu raciocínio e deu início a uma nova fase, sufocante, que naquele momento começaria a viver:

"É como se uma nuvem vestida de negro, que acabara - em poucos dias - de deixar meus pensamentos, retornasse à sua origem em forma de tempestade.
Trovões, raios, relâmpagos....meu mundo se acabando em águas e eu aqui, olhando do alto da janela da minha vida, a vida que não quero ver escoar pela calçada.
Fosse somente o lamaçal que ora nos inunda, dissimularia pela limpidez que aos meus olhos se traduz. Mas a incerteza de que na essência tudo não passa de uma chuva de verão me faz insistir, deslizar, permitir.
Onde estará a Lua que outrora irradiava sobre nós? Onde estará você, tão precoce enrustido em minha carne, tão tardio em assumir que vai sumir?"

As palavras que soavam como um pseudo-poema de amor-amante, cobrando pela ausência discreta de uma noite insegura, passa agora a ser visto como uma poesia de amor-materno, clamando pela presença todos os dias. E, por ironia do destino, o amor-amante tornou-se diário.

O telefonema que recebi conduziu-me até minha mãe, no momento em que ela sofria um infarte.
Sentiu-se mal na aula de dança. Achava que era efeito do remédio que havia tomado para a dor de garganta. Angina, ânsia, pressão alta, queimação no peito e no braço esquerdo. Ambulância, hospital público, óbito na emergência ao lado, pedido de socorro. Transferência para o hospital do convênio, medicação, eletrocardiograma, exame de sangue, diabetes. Calmaria, monitoramento cardíaco, UTI. Cinco obstruções coronarianas, duas pontes de safena. Cirurgia da vida para reestabelecer as funções da minha baixinha na próxima segunda-feira. Um universo que conspira em favor dos que crêem que a cura é sempre possível. E um Deus maior que o medo, a angústia e o desespero para concretizar todas as orações, pensamentos e palavras de conforto. Que assim seja.

Evita

Um comentário:

Unknown disse...

Ei moça,
Toma um pouco de Vinicius que transforma e liberta: Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.