29 de out. de 2007

Coisas que abandonamos

É essa saudade que atormenta
Desejo louco de partir daqui
Para qualquer outro lugar
Um país distante
Onde está o destino espetacular dos meus ideais de infância?
Por onde andam os melhores amigos de toda vida?
Cadê os vestidos de seda e os sapatos de verniz?
Aonde enfiaram meus sonhos de juventude?
Um príncipe, um trabalho descolado, a grana do trago
Tudo em ordem onde beira o caos
Quem precisa de remédio?
Os carros nem precisam sair do lugar

4 de out. de 2007

estréia, frufru, café com leite

Finalmente estréio no blog mais amado. Passei um tempinho viajando sozinha, física e mentalmente. Passar 20 dias sozinha... Claro, encontrando pessoas e conversando com gente do mundo todo em algum momento do dia, mas a maior parte do tempo sozinha.

Engraçado como o cérebro dá voltas. Começava um dia pensando uma coisa e no final do dia mudava de opinião. Elaborava teorias inteiras sobre o que estava observando, e às vezes alguma coisa mal resolvida da vida me assombrava como numa rajada de vento numa janela de vidro. Quando se está sozinha vem aquela sensação tenebrosa de tudo depende de você mesmo e que num país distante ninguém vai ligar se você desaparecer. Por outro lado a liberdade de poder passar 3 horas olhando roupas sem ninguém censurar, se fazer de louca e sair cantando desafinadamente no meio da rua, e andar com o cabelo a lá Maria Bethânia. Aquela sensação de “ninguém nunca mais vai te ver” é muito interessante para libertar vontades bobas e profundas e ao mesmo tempo ver que vivo fazendo tempestade em copo d´água e me contendo em coisas tão simples. Eu preciso decorar mais músicas.

***
Há quatro meses encontrei pela segunda vez, alguém que tive a oportunidade de conhecer dois anos antes. Foi um reencontro de duas pessoas que estavam precisando muito uma da outra.

Acredito que o dia que a gente descobre a razão do gostar de uma pessoa é porque já não gosta mais, e sigo não sabendo porque gosto dele. Viajei deixando ele aqui. Um aperto o coração, uma vontade de dividir as coisas com ele e de ter um celular ilimitado para ligar o tempo todo.


Também dá um medinho de fraquejar e se entregar a uma aventura internacional. A paisagens românticas, as línguas estrangeiras, enfim, a sedução pelo desconhecido.

Na cidade do romance o desconhecido falava inglês e era professor de literatura da terra do Bono. Disse que já tinha lido as 1000 páginas do Ulisses, de James Joyce. Sob a sombra do souvenir mais conhecido do mundo, conversa foi, conversa veio, assim como os copos de vinho. Os brindes a mais, a vergonha de menos. Os elogios, um toque rápido, mas que na versão européia continua como sendo só um elogio porque não ultrapassa a barreira que acaba na boca.


Os sopros de inverno me ajudavam a voltar para realidade, como pequenas mensagens do anginho que mora no ombro direito. No final foi platônico. Como um cartão postal animado de Paris. Um tapinha pra cima no ego. Numa cidade cheia de frufru, que misto quente chama Croque Monsier, pensei no prazer das coisas simples, como acordar junto, ficar curtindo a preguiça matinal e depois pedir uma média e um pão na chapa em bom português na padaria mais próxima. O café da Europa é ruim.

Lola

2 de out. de 2007

Desígnios do coração

No último dia 29/09 pela manhã, sentei-me em frente ao computador e comecei a brincar com as palavras, já que assim construimos pensamentos, textos, desabafos.
Não era o sábado mais bonito. Amanhecera nublado, engasgado e pensar que o que eu pensava poderia ser algo da minha cabeça começava a me flagelar.

Dedilhei consoantes e vogais integradas, seguidas de espaços, de modo que fizessem sentido.....Não pensei que de alguma maneira elas de fato se tornariam reais. Salvei-as quando um telefonema interrompeu meu raciocínio e deu início a uma nova fase, sufocante, que naquele momento começaria a viver:

"É como se uma nuvem vestida de negro, que acabara - em poucos dias - de deixar meus pensamentos, retornasse à sua origem em forma de tempestade.
Trovões, raios, relâmpagos....meu mundo se acabando em águas e eu aqui, olhando do alto da janela da minha vida, a vida que não quero ver escoar pela calçada.
Fosse somente o lamaçal que ora nos inunda, dissimularia pela limpidez que aos meus olhos se traduz. Mas a incerteza de que na essência tudo não passa de uma chuva de verão me faz insistir, deslizar, permitir.
Onde estará a Lua que outrora irradiava sobre nós? Onde estará você, tão precoce enrustido em minha carne, tão tardio em assumir que vai sumir?"

As palavras que soavam como um pseudo-poema de amor-amante, cobrando pela ausência discreta de uma noite insegura, passa agora a ser visto como uma poesia de amor-materno, clamando pela presença todos os dias. E, por ironia do destino, o amor-amante tornou-se diário.

O telefonema que recebi conduziu-me até minha mãe, no momento em que ela sofria um infarte.
Sentiu-se mal na aula de dança. Achava que era efeito do remédio que havia tomado para a dor de garganta. Angina, ânsia, pressão alta, queimação no peito e no braço esquerdo. Ambulância, hospital público, óbito na emergência ao lado, pedido de socorro. Transferência para o hospital do convênio, medicação, eletrocardiograma, exame de sangue, diabetes. Calmaria, monitoramento cardíaco, UTI. Cinco obstruções coronarianas, duas pontes de safena. Cirurgia da vida para reestabelecer as funções da minha baixinha na próxima segunda-feira. Um universo que conspira em favor dos que crêem que a cura é sempre possível. E um Deus maior que o medo, a angústia e o desespero para concretizar todas as orações, pensamentos e palavras de conforto. Que assim seja.

Evita

Tempos estranhos num poema triste

Todo carnaval tem seu fim mesmo
Pobreza literária para tempos estranhos
Plágio de um outrora que nunca termina
Década de colagens tortas

Uma vida cruelmente intensa
Pra um tempo tão miseravelmente curto
Tantas possibilidades vazias
Num sem número de poucas chances


Temporada esquisita essa
Que não acaba, mas também não começa

1 de out. de 2007

O Haver

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura.
Essa intimidade perfeita com o silêncio.
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo.
Perdoai-os! Porque eles não têm culpa de ter nascido.
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível.
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza.
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser e ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonha, de transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é, e essa visão ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior De mundos inexistentes, e esse heroísmo Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade. Pelo momento a vir, quando, apressada ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante.
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada.
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda Essa busca de equilíbrio no fio da navalha Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo Infantil de ter pequenas coragens.
Então, se o bofe não sente o cheiro, ele é viado, BI!

Perla

O rapto, praticamente um seqüestro relâmpago!

Meninas, fui raptada no sábado de manhã! O resgate não foi pago por inteiro, mas rolou uma negociação, TUDO e BAFON!! Metade no ato e metade para o próximo fim de semana.
Não vou entrar em detalhes, mesmo pq ainda não divulguei este babado de minha vida, mas ele é sensacional e mega divertido.
Ah, o seqüestrador, um DEUS GREGO! Sim, eles existem. ai ai...


Perla