Devaneios da Madrugada

São duas horas da manhã, deveria estar dormindo porque amanhã começo no trabalho novo. Mas tô aqui acordada, com preguiça de dormir, porque para dormir tem que colocar lençol da cama. E também porque estou tensa. Tinha frilas que deveria fazer e não fiz. Culpa, uma eterna culpa. Durmirei com o acolhedor, “amanhã eu faço?”.

Maldita culpa católica! E pior, que absorvi essas tradições por osmose, nem batizada sou. Por causa desse lapso espiritual dos meus pais, cresci ouvindo minha avó dizer que tinha uma serpente enrolada no corpo e que se morresse ia para o limbo. Fiquei sabendo que o papa aboliu o limbo, mas não a minha aflição de ter o bicho enrolado no meu corpo.

Ando numa fase bem tragicômica, mais cômica. Sempre fui de fazer tempestade em copo d´água, mas esse ano, acho que a tempestade é uma garoa fina, constante e deveras irritante.

Tô naquela fase de rever quem me faz bem quem não faz, o que quero da carreira e por isso abrir mão de algumas coisas. De uns tempos para cá ando meio hippie e reparando mais na energia das pessoas. Confesso que to indo bem na percepção e me afastando de uns carregados de plantão.

Contudo, cada vez mais vejo a amizade como algo que você pode dividir em categorias: amigos para sair, para ter conversas filosóficas, falar de homem, para falar de roupas, para falar de política, etc, etc.

Aquelas amizades grudadas, plenas e completas não são mais viáveis na vida adulta. Será? Na verdade a amizade completa fica restrita aos dedos de uma mão, ou nem isso, e essas novas amizades, menos intensas, são mais leves e divertidas.

Por outro lado, cada vez menos tenho paciência para sair. Cada vez menos gosto de beber. Não beber é bom porque não tenho vontade de fumar. To ficando velha ou inconsciente estou me preparando para casar e ter filhos? Medo.

Outro dia fiz uma retrospectiva dos nascimentos da minha família e vi que todo mundo com a minha idade já tinha filho. Minha garoa contínua no copo d´água não faria bem pro pobre bebê e ao mesmo tempo sinto que o relógio biológico começa a dar indícios de vontade de ter filho. Mais medo.

Amanhã penso mais. Se pensasse menos resolvia mais. Preguiça. Acho que por agora o melhor é dormir mesmo.